A GATA QUE PESCAVA
Em uma
terra distante, onde o inexplicável ocorria com naturalidade, morava um casal
muito simpático de serradores – pessoas que serravam madeira usando uma serra
manual. Naquela época onde tudo era feito de forma artesanal, a serraria deste
casal fornecia tábuas, caibros e ripas para construção de casas. Este casal
possuía vários animais de estimação, mas a preferida era uma gata preta com
manchas branca carinhosamente chamada de “bichana”. Ela era mesmo muito
especial, pois possuía uma habilidade curiosa. Pode até parecer estranho, mas a
gata pescava.
Certa
vez, a gata chegou em casa com um lambari – peixe de pequeno porte que vive em
água doce – até então o serrador achou normal. Pensou que fosse algum peixe que
havia caído do embornal de algum pescador. Porém, as aventuras de bichana só
estavam começando. Um belo dia, após ter serrado uma belíssima tora de
jacarandá, o velho serrador descansava em sua cadeira de balanço enquanto sua
Senhora preparava o jantar, quando de repente, a gata aparece com uma traíra de
aproximadamente 20 cm atravessada na boca. O velho serrador por um instante
pensou que estava sonhando, passou as mãos nos olhos e olhou novamente e ficou
assustado, levantou rapidamente e foi até a cozinha chamar sua esposa.
__ Mulher! Venha! A Bichana pegou uma traíra!
A Senhora preocupada com o jantar, respondeu:
__ Meu velho, você deve estar cansado e com fome, já vou
servir o jantar. Ah! Falei com você que aquele pó de jacarandá estava caindo em
seus olhos e ia atrapalhar sua visão.
O
velho não desistiu, pegou sua Senhora pelo braço e a trouxe até o quintal. A
Senhora olhou para gata, ficou muito espantada e disse:
__ Meu
Deus! Será que nossa gata sabe pescar?
O
velho surpreso, respondeu?
__ Não
sei minha velha, mas este é o segundo peixe que ela traz.
A
velha ainda muito espantada, disse para o velho:
__
Amanhã vou ficar na tocaia desta gata.
No dia
seguinte, a Senhora não foi trabalhar, passou o dia todo vigiando a gata. Era
um dia ensolarado, típico do verão Campo-alegrense, ótimo para a pesca. Depois
de horas observando a Bichana, a Senhora teve uma ideia:
__ Já
que esta gata está tão desanimada vou aproveitar este dia bonito para pescar.
Então,
a Senhora passou a mão na enxada, foi até o fundo do quintal e arrancou algumas
minhocas, colocou em uma cuia, em seguida pegou dois anzóis e foi pescar em um
açude perto de sua casa. Chegando lá, iscou os anzóis, arremessou-os nas águas
do açude e ficou a esperar a sombra de uma árvore de pau d’alho. Apesar do dia
bonito, os peixes não queriam nada com os anzóis, pois já havia um bom tempo
que a Senhora estava tentando pescar e nenhum peixe veio comer a isca. Então, a
Senhora resolveu voltar para sua casa.
No
caminho de casa ainda na beira do açude, ela ouviu um barulho e decidiu investigar.
Saiu bem sutil, pé por pé e logo avistou a sua gata escondida numa moita de
capim. A Senhora muito curiosa ficou esperando a reação da gata. Para sua
surpresa a gata estava pescando de uma forma bem diferente. Ela balançava a
semente de capim que caia na água e quando os peixes vinham pegar, ia com suas
unhas afiadas e dava-lhe um tapa, jogando o peixe para fora d’água. Neste dia,
Bichana se superou, conseguiu retirar das águas duas traíras e quatro lambaris.
A
partir deste dia, o casal de serradores não teve mais dúvida, a Bichana
realmente pescava. O fato se espalhou pela comunidade, e como sempre, quase
ninguém acreditava na história do casal. No entanto, esta história foi
repassada de pai para filho até chegar aos bisnetos. Até hoje, as pessoas mais
antigas da Vila caçoam sobre o assunto.
Professor: Alexandro Correia Marins